Notícia
Fabricio Mazocco
- Publicado em
17-10-2024
13:00
AIDS e envelhecimento homossexual são temas de livro
A Editora da UFSCar (EdUFSCar) está lançando o livro "AIDS e envelhecimento homossexual - Representações gerontológicas e a linguagem da patologia", de autoria de João Paulo Guglioti, gerontólogo e doutor em Sociologia pela UFSCar.
"O livro reflete minha formação inicial em Gerontologia e, depois, em Sociologia. No doutorado investiguei a produção biogerontológica a partir da homossexualidade. Interessava-me compreender como o envelhecimento e a homossexualidade foram abordados pela especialidade e suas disciplinas correlatas desde os anos 1970, ao longo dos últimos quarenta anos. A AIDS apareceu como um evento histórico associado à produção de conhecimento na Biogerontologia, principalmente nos anos 1980, década em que a homossexualidade não mais era concebida como um distúrbio psiquiátrico, mas passa a ser classificada em termos de risco ao HIV/AIDS pela Epidemiologia", explica o autor.
O livro explora sociologicamente as continuidades e rupturas das pesquisas sobre homossexualidade e envelhecimento entre 1970 e 2018. Interroga como as ciências biogerontológicas representaram a homossexualidade sob o prisma analítico do "paradigma inclusão-diferença", cristalizado na década de 1990 em políticas de pesquisa envolvendo financiamento, recrutamento e seleção de populações para estudos experimentais de tipo randomizado nos Estados Unidos.
Analisa, ainda, o ativismo encampado pelo grupo Mothers of Patients with AIDS, em Nova York, evidenciando a intricada relação entre a ausência de políticas de saúde macrossistêmicas, os dilemas morais e éticos da epidemia, o papel da gerontologia social e de grupos civis organizados, o impacto de classificações estigmatizantes, a emergência de categorias médicas e os usos estratégicos de eufemismos por pacientes e pessoas afetadas pela AIDS.
"Interessava compreender as representações, inicialmente a partir da linguagem da ciência. E, depois, como essa linguagem era assimilada, disputada e contestada nos movimentos sociais em saúde, tendo particular atenção às mães, filhos e familiares acometidos pela doença e que demandavam cuidados e suporte social", destaca Guglioti.
A pesquisa mostrou que, ao incorporar as discussões sobre homossexualidade já nos anos 1980, a Biogerontologia seguiu a tendência da epidemiologia corrente e patologizou homens homossexuais e outros grupos expostos (mulheres lésbicas, bissexuais, comunidades não-brancas, imigrantes, profissionais do sexo e usuários de drogas endovenosas) pela ênfase em aspectos que combinavam discursos acerca da sexualidade e o risco de contrair infecções sexualmente transmissíveis (IST).
"Os dados, então, corroboram a tese da repatologização da homossexualidade em um vocabulário não mais psiquiátrico, mas agora epidemiológico, e mostram as afinidades da produção científica e biogerontológica com os enquadramentos morais decorrentes do período mais mortal da doença até a disponibilização do coquetel antirretroviral em 1997", conclui Guglioti.
A pesquisa que originou o livro é resultado do projeto sob o mesmo título, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e foi orientada por Richard Miskolci, do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS ) da UFSCar, com supervisão da historiadora da ciência Sarah S. Richardson, de Harvard.
Mais informações no site da EdUFSCar, onde a obra pode ser adquirida.
"O livro reflete minha formação inicial em Gerontologia e, depois, em Sociologia. No doutorado investiguei a produção biogerontológica a partir da homossexualidade. Interessava-me compreender como o envelhecimento e a homossexualidade foram abordados pela especialidade e suas disciplinas correlatas desde os anos 1970, ao longo dos últimos quarenta anos. A AIDS apareceu como um evento histórico associado à produção de conhecimento na Biogerontologia, principalmente nos anos 1980, década em que a homossexualidade não mais era concebida como um distúrbio psiquiátrico, mas passa a ser classificada em termos de risco ao HIV/AIDS pela Epidemiologia", explica o autor.
O livro explora sociologicamente as continuidades e rupturas das pesquisas sobre homossexualidade e envelhecimento entre 1970 e 2018. Interroga como as ciências biogerontológicas representaram a homossexualidade sob o prisma analítico do "paradigma inclusão-diferença", cristalizado na década de 1990 em políticas de pesquisa envolvendo financiamento, recrutamento e seleção de populações para estudos experimentais de tipo randomizado nos Estados Unidos.
Analisa, ainda, o ativismo encampado pelo grupo Mothers of Patients with AIDS, em Nova York, evidenciando a intricada relação entre a ausência de políticas de saúde macrossistêmicas, os dilemas morais e éticos da epidemia, o papel da gerontologia social e de grupos civis organizados, o impacto de classificações estigmatizantes, a emergência de categorias médicas e os usos estratégicos de eufemismos por pacientes e pessoas afetadas pela AIDS.
"Interessava compreender as representações, inicialmente a partir da linguagem da ciência. E, depois, como essa linguagem era assimilada, disputada e contestada nos movimentos sociais em saúde, tendo particular atenção às mães, filhos e familiares acometidos pela doença e que demandavam cuidados e suporte social", destaca Guglioti.
A pesquisa mostrou que, ao incorporar as discussões sobre homossexualidade já nos anos 1980, a Biogerontologia seguiu a tendência da epidemiologia corrente e patologizou homens homossexuais e outros grupos expostos (mulheres lésbicas, bissexuais, comunidades não-brancas, imigrantes, profissionais do sexo e usuários de drogas endovenosas) pela ênfase em aspectos que combinavam discursos acerca da sexualidade e o risco de contrair infecções sexualmente transmissíveis (IST).
"Os dados, então, corroboram a tese da repatologização da homossexualidade em um vocabulário não mais psiquiátrico, mas agora epidemiológico, e mostram as afinidades da produção científica e biogerontológica com os enquadramentos morais decorrentes do período mais mortal da doença até a disponibilização do coquetel antirretroviral em 1997", conclui Guglioti.
A pesquisa que originou o livro é resultado do projeto sob o mesmo título, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e foi orientada por Richard Miskolci, do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS ) da UFSCar, com supervisão da historiadora da ciência Sarah S. Richardson, de Harvard.
Mais informações no site da EdUFSCar, onde a obra pode ser adquirida.