Notícia
Um feito inédito, fruto de um extenso e cuidadoso trabalho coordenado por professores do Departamento de Educação (DEd) da Universidade, com o apoio da Pró-Reitoria de Graduação (ProGrad), pela Divisão de Desenvolvimento Pedagógico (DiDPed), é a aprovação da UFSCar para oferecer o primeiro curso de Licenciatura em Educação Escolar Quilombola no estado de São Paulo. A Universidade acaba de ser contemplada no edital Parfor-Equidade, uma ação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), idealizada junto à Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (Secadi/MEC).
A conquista terá um importante impacto na formação de profissionais que atuam na Educação Escolar Quilombola e será destinado a quilombos situados na região do Vale do Ribeira, colocando a UFSCar mais uma vez à frente na implementação das políticas de ações afirmativas na Educação Superior.
A proposta de criação do curso de Licenciatura em Educação Escolar Quilombola está fundamentada nas persistentes necessidades impostas pela realidade social, decorrentes das desigualdades raciais no Brasil.
A formação é voltada para professores que atuam na Educação Escolar Quilombola e para pessoas quilombolas. O curso terá duração de quatro anos, com a oferta de 35 vagas e será realizado em regime de alternância de tempos formativos entre tempo/escola e tempo/comunidade, de maneira a propiciar momentos para a participação dos estudantes na elaboração, desenvolvimento e avaliação dos currículos e programas, considerando o contexto sociocultural e histórico das comunidades quilombolas.
O processo seletivo para o curso está previsto para acontecer até o mês de junho e o início das aulas deve ocorrer até 31 de agosto de 2024. Os estudantes aprovados receberão uma bolsa mensal no valor de R$ 700 durante todo o curso para auxiliar nos custos com a permanência no período da formação.
A já existente relação de docentes e pesquisadores da UFSCar em outros projetos com comunidades da região do Vale do Ribeira, local onde está a maior concentração de quilombos no estado de São Paulo, foi fator decisivo para a submissão do edital. "Temos experiência de sucesso com outros programas de formação de professores para a educação no campo, e agora conseguiremos realizar um importante trabalho com a comunidade quilombola", disse Maria Cristina dos Santos, docente do DEd e uma das coordenadoras do projeto.
O grande diferencial do programa é a troca de experiências e de saberes entre a Universidade e as comunidades, articulando o conhecimento científico e os tradicionais produzidos pelas comunidades quilombolas em seus contextos sócio-histórico-culturais, a partir de um formato de ensino e aprendizado que contará com docentes da UFSCar e a participação de moradores locais, das lideranças e de anciãos portadores da história, memória, ancestralidade e conhecimentos tradicionais.
"Faremos essa articulação entre os saberes científicos e tradicionais. A proposta é termos no curso representantes das comunidades que sejam conhecedores de temas como agricultura familiar, Agroecologia, História, memória e tradições culturais quilombolas para lecionarem nas disciplinas. As comunidades tradicionais têm um conjunto de saberes transmitidos de geração para geração e é importante que isso seja preservado e valorizado no curso. O saber tradicional tem o mesmo espaço e valor que o saber científico", explica Santos.
Outra importante característica é que as aulas ocorrerão em um dos municípios de abrangência do curso, evitando grandes deslocamentos dos educandos e para manter a relação direta com a comunidade, compartilhando o conhecimento adquirido com ela durante toda a formação.
Com o curso aprovado, o próximo passo é a realização, em abril, de um seminário de integração entre a comunidade universitária, mais precisamente os docentes e as docentes envolvidas com o projeto e a comunidade quilombola para a articulação na implementação do curso, elaboração, desenvolvimento considerando o contexto sociocultural e histórico das comunidades quilombolas e para estabelecer a organização dos tempos e espaços do ensino.
O Parfor-Equidade é uma ação especial dentro de um programa já existente (o Parfor), que já beneficiou mais de 100 mil professores da Educação Básica que não possuíam formação adequada na sua área de atuação nas escolas públicas, além de promover a inclusão, o empoderamento e o fortalecimento da identidade das comunidades quilombolas, contribuindo assim para um Brasil mais justo e igualitário.