Notícia

Gisele Bicaletto - Publicado em 13-12-2023 13:00
Estudo avalia distribuição do picoplâncton em todo o oceano
Representação do picoplâncton feita por Inteligência Artificial (Imagem: Grupo de pesquisa)
Representação do picoplâncton feita por Inteligência Artificial (Imagem: Grupo de pesquisa)
Formado pelos menores organismos do oceano - com tamanhos variando entre 0,2 e 3 micrômetros (para comparação, o diâmetro de um fio de cabelo é cerca de cem vezes maior) -, o picoplâncton fica imenso quando pensamos em sua abundância total: suas comunidades, distribuídas por todo o oceano global, representam mais da metade da biomassa deste que é o maior ecossistema do nosso planeta. Essas comunidades de microrganismos, que incluem procariontes - como bactérias e arqueias - e eucariontes unicelulares, constituem uma diversidade genética responsável por serviços ecossistêmicos essenciais, como, por exemplo, a fixação de carbono e, assim, redução de gases de efeito estufa na atmosfera. 

No entanto, no vasto e ainda pouco estudado oceano profundo, uma lacuna de conhecimento relevante diz respeito aos processos ecológicos responsáveis pela conformação dessas comunidades de picoplâncton através das diferentes zonas de profundidade ao redor do mundo. Um estudo recém-publicado na revista científica Science Advances, coordenado por pesquisadores brasileiros, traz muitas novas informações sobre os mecanismos que estruturam essas comunidades que, além do papel no ciclo do carbono e outros elementos, como o nitrogênio, têm grande participação na base das cadeias alimentares.

O maior diferencial do trabalho foi a análise de amostras de diferentes profundidades do oceano global. São mais de 450 amostras, resultantes das expedições oceanográficas Malaspina, em 2010, e Hotmix, em 2014, com coletas nos oceanos Atlântico, Pacífico, Índico, e no Mar Mediterrâneo. As amostras vieram de regiões superficiais e profundas, cobrindo as zonas epi- (0-200 metros), meso- (200-1.000 metros) e batipelágica (1.000-4.000 metros). "Apesar de menos estudado que o superficial, o oceano profundo - zonas meso e bati - apresenta o maior volume do oceano global, cerca de 90%, representando assim o maior ecossistema do Planeta. Isso demonstra a importância do estudo, pelas amostras coletadas nessas profundidades, menos estudadas", situa Pedro Junger, autor do trabalho.

O trabalho integrou a tese de doutorado de Junger, realizada no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais (PPGERN) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), sob orientação de Hugo Sarmento, ambos do Laboratório de Biodiversidades e Processos Microbianos (LMPB) da Universidade. Durante o doutorado, o pesquisador realizou estágio no Instituto de Ciências do Mar (ICM), na Espanha, onde foi co-orientado por Ramiro Lougares, que também integra o grupo de autores da publicação, dentre outros.

Um dos achados mais relevantes do estudo é que os mecanismos que influenciam a estrutura das comunidades picoplantônicas variam com a profundidade do oceano. O trabalho também sugere que as comunidades que habitam o oceano profundo respondem de modo diferente às mudanças ambientais que aquelas vivendo nas águas mais superficiais. Assim, o estudo destaca a importância de compreender a biogeografia do picoplâncton no contexto atual de mudanças climáticas globais, já que essas comunidades são consideradas indicadores da saúde ecológica do oceano e podem fornecer muitas informações sobre os impactos climáticos. De acordo com os autores, as respostas do picoplâncton à variabilidade ambiental podem informar políticas de conservação, atuando como indicadores iniciais de mudanças na saúde dos ecossistemas marinhos. "Ao compreender os mecanismos que estruturam essas comunidades, podemos prever melhor como esses organismos responderão às mudanças ambientais e seus potenciais impactos nos ecossistemas marinhos", explica Junger.

O artigo publicado em Science Advances pode ser acessado via https://bit.ly/3SGtIfn. Os pesquisadores brasileiros envolvidos tiveram financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e, também, da União Europeia, por meio do projeto de pesquisa e extensão AtlantECO.