Notícia
Comparando comunidades de insetos em riachos no Brasil e nos Estados Unidos, pesquisa liderada pela UFSCar tem como objetivo compreender impactos das mudanças climáticas sobre a organização da biodiversidade aquática, algo ainda pouco conhecido. A iniciativa prevê colaboração com três instituições dos EUA (Universidade da Califórnia, Universidade Estadual da Virgínia e Universidade de Maryland) e uma neozelandesa (Universidade de Canterbury).
O projeto foi aprovado recentemente para receber apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da National Science Foundation (NSF), em chamada colaborativa com a temática "Biodiversity on a Changing Planet (BoCP) 2022" (Biodiversidade em um Planeta em Transformação). A liderança é de Victor Satoru Saito, docente no Departamento de Ciências Ambientais (DCAm) da UFSCar.
Com duração de três anos, o projeto prevê estudos - com bolsas de graduação, treinamento técnico e pós-doutorado para as universidades envolvidas - em comunidades biológicas de riachos, principalmente insetos que possuem fase de larva na água e, de adultos, terrestres com asas, como as libélulas.
O intuito é entender se a organização dessas comunidades, ao longo do tempo, é diferente em locais tropicais e temperados.
"As espécies são sempre as mesmas ou mudam de mês a mês? Qual a magnitude dessas variações? Há a troca de todas as espécies do verão para o inverno, ou mantêm-se as mesmas?", exemplifica o pesquisador.
Para responder a esses questionamentos, os cientistas produzirão amostragens mensais dessas comunidades em riachos nos dois países, de uma forma coordenada e uniforme. Com isso, pretendem estudar todo o ciclo de vida desses insetos - ou seja, da vida aquática à saída da água, como adultos alados, até a reprodução e a inserção de ovos novamente nos riachos. Também estarão no foco as suas demografias (dinâmica da população, com informações como quantidade de indivíduos, natalidade e mortalidade).
O desconhecimento ainda existente sobre como a biodiversidade de insetos responde diretamente às mudanças climáticas é devido, sobretudo, à falta de estudos coordenados em diferentes latitudes, que permitam uma comparação direta do efeito da temperatura nos organismos.
"Com os dados coletados, vamos buscar construir modelos que permitam prever como cada comunidade pode responder a futuras mudanças climáticas", detalha o docente da UFSCar.
Os locais de análise ainda estão em definição, mas Saito adianta que, aqui no Brasil, serão potencialmente os riachos dentro do Parque Estadual de Intervales, localizado no Sul do estado de São Paulo. "Esta Unidade de Conservação abriga uma Mata Atlântica muito bem preservada e uma bacia hidrográfica bem inserida e conhecida", justifica.
Saito conta que os insetos aquáticos costumam ser utilizados como indicadores ambientais. Assim, o estudo também é uma forma de tentar prever como os ecossistemas vão responder a mudanças, para pensar em precauções diante de alterações ecossistêmicas indesejadas, como a perda de espécies de interesse pesqueiro ou a diminuição da qualidade da água.
O pesquisador explica que, hoje, é muito utilizada a Teoria Metabólica - que indica que o metabolismo dos organismos determina fortemente o que se encontra na Natureza - para elucidar a biodiversidade, mas sabe-se da importância de sua união com outras explicações possíveis, conforme já abordado em pesquisas anteriores do próprio Saito.
"As populações das espécies também sofrem variações em suas abundâncias de forma estocástica (ou seja, imprevisível, de causa desconhecida) -, e é justamente esse ponto que buscamos entender melhor, investigando as relações dessas variações com a temperatura. A ideia é avançar nesses estudos e entender mais sobre o ciclo de vida das espécies, para começarmos a tapar essas lacunas no conhecimento da nossa fauna", complementa o pesquisador.
Mais informações sobre o projeto aprovado - intitulado "Entendendo o papel da estocasticidade na montagem de metacomunidades sob efeitos de mudanças globais" - estão disponíveis no site da Fapesp.
Esta matéria aborda contribuição da comunidade da UFSCar à concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - Agenda 2030 (ODS14-Vida na Água)