Professor da UFSCar lança biografia de Horacio Quiroga
Araras, Lagoa do Sino, Sorocaba, São Carlos
"O Anarquista Solitário - Uma biografia de Horacio Quiroga" está sendo publicado pela Editora Iluminuras
Horacio Quiroga, um dos maiores escritores da América Latina, tem sua trajetória contada em detalhes por Wilson Alves-Bezerra, professor de Departamento de Letras (DL) da UFSCar, que está lançando a obra "O Anarquista Solitário - Uma biografia de Horacio Quiroga" (Editora Iluminuras).
"O escritor uruguaio-argentino Horacio Quiroga (1878-1937) é relativamente conhecido no Brasil, teve alguns de seus livros traduzidos, mas o conhecimento de sua obra é maior entre a comunidade acadêmica do que entre o público em geral. Escrever uma biografia sua, narrativa, bem fundamentada, e que dialogasse com o tempo e o espaço no qual estamos, era meu objetivo. Horacio Quiroga é da mesma geração de Lima Barreto e Monteiro Lobato no Brasil, e Alfonsina Storni e Jorge Luis Borges na Argentina. Era preciso, também, alguém que pudesse estabelecer a relação entre esses autores tão heterogêneos. Essa foi a aposta: um escritor contraditório, que escreveu em espanhol, mas que esteve no Brasil e manteve com o país alguns laços", explica Alves-Bezerra.
Ainda segundo o autor, Quiroga é o primeiro grande contista do continente, mas sua obra fica por um lado eclipsada pelas gerações que o sucederam, seja a de Borges, seja a do boom dos anos sessenta do século 20. "Relê-lo e analisá-lo é resgatá-lo e oferecer-lhe uma nova legibilidade, fora de lugares comuns como 'o mestre do conto', 'o Poe latino-americano', o maldito".
Ele acrescenta que, diferentemente de uma biografia "a quente", quando é biografado um contemporâneo e é possível entrevistar quem conheceu e conviveu com o personagem biografado, escrever sobre alguém morto há mais de oitenta anos é dialogar, sobretudo, com escritos, arquivos, hemerotecas, bibliotecas e resgatar papeis esquecidos.
"Entender que biografar alguém de outro século não significa assumir um ponto de vista de outro século. Negociar entre o passado e o presente, sem incorrer em anacronismos, esse é o desafio. A relação de Horacio com as mulheres é uma marca disso, todas as amigas ou namoradas com quem ele se relacionou ou foram expurgadas das primeiras abordagens ou foram incluídas de modo folhetinesco. Busquei um tom mais próximo do cotidiano, a partir dos dados que pude encontrar em cartas, depoimentos, memórias dele e de terceiros e terceiras", detalha.
O número de documentos pesquisados é incontável, haja vista que são mais de 25 anos que o Alves-Bezerra lê a obra de Horacio Quiroga, traduzindo-a e escrevendo sobre ela. "O espólio do escritor está, desde sua morte, no Setor de Arquivos Literários, da Biblioteca Nacional do Uruguai. Entretanto, há acervos secretos, pessoais, e há importantes hemerotecas que foram consultadas, como as das bibliotecas nacionais do Brasil, Argentina e Espanha. Além do Instituto Ibero-Americano, de Berlim. Há também os lugares por onde ele passou, Paris, Rio, São Paulo, Buenos Aires, San Ignacio. Persegui cada um desses passos", relata.
Mas por que o título "O Anarquista Solitário"? De acordo com Alves-Bezerra, o leitor, já no primeiro capítulo, descobre que Anarquista Solitário é como o próprio escritor se refere a si mesmo. Tentando manter-se numa posição à margem das instituições e, ao mesmo tempo, tão dependente delas - pois delas também se nutre - no título do livro está um dos grandes paradoxos da sua vida. "Ele quer dar às costas à civilização, morando na selva, porém precisa de leitores em Buenos Aires, para poder se manter, precisa do apoio dos amigos influentes, para ter algum emprego público. Ao mesmo tempo, não encontra um lugar na política, dando às costas à esquerda e à direita de seu tempo. É um posição difícil de manter."
O livro foi publicado inicialmente na Inglaterra, pela Cambridge Scholars, em 2023. Agora em 2024 está sendo publicado em Português pela Iluminuras. No ano que vem, sai em Espanhol, com o apoio de uma bolsa de tradução da Biblioteca Nacional do Chile, e será publicado pela editora chilena LOM, e pela +Quiroga, do Uruguai.
"O escritor uruguaio-argentino Horacio Quiroga (1878-1937) é relativamente conhecido no Brasil, teve alguns de seus livros traduzidos, mas o conhecimento de sua obra é maior entre a comunidade acadêmica do que entre o público em geral. Escrever uma biografia sua, narrativa, bem fundamentada, e que dialogasse com o tempo e o espaço no qual estamos, era meu objetivo. Horacio Quiroga é da mesma geração de Lima Barreto e Monteiro Lobato no Brasil, e Alfonsina Storni e Jorge Luis Borges na Argentina. Era preciso, também, alguém que pudesse estabelecer a relação entre esses autores tão heterogêneos. Essa foi a aposta: um escritor contraditório, que escreveu em espanhol, mas que esteve no Brasil e manteve com o país alguns laços", explica Alves-Bezerra.
Ainda segundo o autor, Quiroga é o primeiro grande contista do continente, mas sua obra fica por um lado eclipsada pelas gerações que o sucederam, seja a de Borges, seja a do boom dos anos sessenta do século 20. "Relê-lo e analisá-lo é resgatá-lo e oferecer-lhe uma nova legibilidade, fora de lugares comuns como 'o mestre do conto', 'o Poe latino-americano', o maldito".
Ele acrescenta que, diferentemente de uma biografia "a quente", quando é biografado um contemporâneo e é possível entrevistar quem conheceu e conviveu com o personagem biografado, escrever sobre alguém morto há mais de oitenta anos é dialogar, sobretudo, com escritos, arquivos, hemerotecas, bibliotecas e resgatar papeis esquecidos.
"Entender que biografar alguém de outro século não significa assumir um ponto de vista de outro século. Negociar entre o passado e o presente, sem incorrer em anacronismos, esse é o desafio. A relação de Horacio com as mulheres é uma marca disso, todas as amigas ou namoradas com quem ele se relacionou ou foram expurgadas das primeiras abordagens ou foram incluídas de modo folhetinesco. Busquei um tom mais próximo do cotidiano, a partir dos dados que pude encontrar em cartas, depoimentos, memórias dele e de terceiros e terceiras", detalha.
O número de documentos pesquisados é incontável, haja vista que são mais de 25 anos que o Alves-Bezerra lê a obra de Horacio Quiroga, traduzindo-a e escrevendo sobre ela. "O espólio do escritor está, desde sua morte, no Setor de Arquivos Literários, da Biblioteca Nacional do Uruguai. Entretanto, há acervos secretos, pessoais, e há importantes hemerotecas que foram consultadas, como as das bibliotecas nacionais do Brasil, Argentina e Espanha. Além do Instituto Ibero-Americano, de Berlim. Há também os lugares por onde ele passou, Paris, Rio, São Paulo, Buenos Aires, San Ignacio. Persegui cada um desses passos", relata.
Mas por que o título "O Anarquista Solitário"? De acordo com Alves-Bezerra, o leitor, já no primeiro capítulo, descobre que Anarquista Solitário é como o próprio escritor se refere a si mesmo. Tentando manter-se numa posição à margem das instituições e, ao mesmo tempo, tão dependente delas - pois delas também se nutre - no título do livro está um dos grandes paradoxos da sua vida. "Ele quer dar às costas à civilização, morando na selva, porém precisa de leitores em Buenos Aires, para poder se manter, precisa do apoio dos amigos influentes, para ter algum emprego público. Ao mesmo tempo, não encontra um lugar na política, dando às costas à esquerda e à direita de seu tempo. É um posição difícil de manter."
O livro foi publicado inicialmente na Inglaterra, pela Cambridge Scholars, em 2023. Agora em 2024 está sendo publicado em Português pela Iluminuras. No ano que vem, sai em Espanhol, com o apoio de uma bolsa de tradução da Biblioteca Nacional do Chile, e será publicado pela editora chilena LOM, e pela +Quiroga, do Uruguai.
17/12/2024
13:00:00
20/01/2025
18:00:00
Fabricio Mazocco
Não
Não
Estudante, Docente/TA, Pesquisador, Visitante
Wilson Alves-Bezerra, autor da biografia. (Imagem: Divulgação)
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